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sexta-feira, 29 de março de 2019

CUSTEIO DA PREVIDÊNCIA QUEM CONTRIBUI: Dois questionamentos.

CUSTEIO DA PREVIDÊNCIA
 QUEM CONTRIBUI: Dois questionamentos.

Tema extremamente polêmico tem tomado conta da vida dos brasileiros nos últimos três anos. Com a possibilidade da nova reforma previdenciária, os cidadãos estão buscando cada vez mais se informar sobre o tema. Para tanto um esclarecimento inicial: A previdência é formada por um composto, do qual pertencem 1. A assistência, 2. A saúde, 3. A previdência, em sentido estrito (ou assistência social, saúde pública, aposentadoria).
Não há dúvida de que a referida reforma atinge mais duramente os humildes, os que ganham menos, as mulheres, além dos trabalhadores do campo, todos esses constituem a grande maioria do povo; diferentemente das classes mais favorecidas, tais como membros do judiciário e dos altos escalões do executivo e do legislativo, cujos salários atingem o teto máximo de quase quarenta mil reais/mês.
Desse modo é que vemos trazer parco esclarecimento acerca do tema contribuição previdenciária e custeio. Em outras palavras, quem contribui ou contribuirá para a manutenção do sistema previdenciário e porque afirmam que se encontra deficitário.
Nessa primeira parte, apresentamos apenas dois pontos a serem esmiuçados – concurso de prognóstico e seguro DPVAT, como fontes de receitas e outros casos paralelos ou paradigmáticos.
Segundo a CF/88 em seu art. 195,III, verbis:

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
I -  dos empregadores, incidente sobre a folha de salários, o faturamento e o lucro;
II -  dos trabalhadores;
III -  sobre a receita de concursos de prognósticos.
Pois bem, em sendo assim, abro a discussão sobre um dos incisos acima: Receita sobre concursos de prognósticos, que são receitas decorrentes de jogos autorizados ou quaisquer concursos legalmente autorizados (loterias, hípicas, etc..). Sabemos que o brasileiro tem o futebol como paixão nacional, mas há também o jogo ou a aposta, de modo que o Estado poderia rever a questão de há muito debatida - jogos de azar - como o jogo do bicho, para no lugar de criminalizar, permitir sua existência regular, para sobre ele, recolher. Se a justificativa de sua proibição ‘é de que tais jogos trazem males para a sociedade (vícios)’ é preciso que se lhe taxe para moderar o contribuinte, porque tal jogo não deixará de existir nas esquinas das menores e maiores cidades do país. A incidência de um imposto contribuirá para aumentar a receita, afinal joga quem quer e o hábito do povo é cultural, inclusive, ocorrendo também com as loterias “legais” ou loto(manias)! (nome sugestivo até!). Se o caráter finalístico do concurso é arrecadar, já que poucos são os beneficiados, como se justifica a permanência dessa modalidade à revelia da lei, praticada diariamente, sem que haja benefício para o estado decorrente de uma taxação? O que dificulta a regulamentação, que pessoas ganham e quais perdem caso essa modalidade se transmude em jogo lícito?
Queremos também apresentar uma segunda discrepância de tratamento acerca do financiamento da previdência social, refiro-me à contribuição feita pelo Seguro DPVAT – Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores Terrestres – ao SUS, no porte de 45% de todo o valor arrecadado. Uma vez que os proprietários de veículos autopropulsados  ou automotores são obrigados a pagarem o imposto IPVA e o referido seguro DPVAT, por que então os veículos automotores aquaviários e aeroviários não contribuem com o referido imposto e com o referido seguro? Se obrigamos o cidadão a pagar imposto sobre um veículo de R$ 10.000,00, por que não exigir do proprietário de um Iate de luxo de milhões de reais? Ou de um proprietário de  um jatinho? Se todos se fazem levar de per si – autopropulsados?  
Nesse segundo caso, a justificativa dada ao tema pelo STF é de que a descrição de veículo automotor, nos termos do CTN –Código de trânsito Nacional – não abrange tais veículos. Piada? Não! É que o povo em geral anda de carro, ônibus, moto, etc...e apenas uma pequena parcela privilegiada pode navegar por outros mares...pois no direito é possível fazer-se interpretação por analogia – exemplo dos furtos virtuais- os quais não constavam do CP da década de 40. Ou ainda podemos fazer interpretação analógica extensiva, colocando no mesmo pacote coisas análogas, como se vê em algumas descrições, exempli gratia: lei de drogas, verbis:

Art. 1o  Esta Lei institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas e define crimes.
Parágrafo único.  Para fins desta Lei, consideram-se como drogas as substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União.
Art. 2o  Ficam proibidas, em todo o território nacional, as drogas, bem como o plantio, a cultura, a colheita e a exploração de vegetais e substratos dos quais possam ser extraídas ou produzidas drogas, ressalvada a hipótese de autorização legal ou regulamentar, bem como o que estabelece a Convenção de Viena, das Nações Unidas, sobre Substâncias Psicotrópicas, de 1971, a respeito de plantas de uso estritamente ritualístico-religioso.

Vejam-se que alguns termos são genéricos – substratos , substâncias, produtos – de maneira que a interpretação depende do bom julgador, cujos interesses devem estar abaixo do interesse do Estado, do povo e da população.


terça-feira, 26 de março de 2019

ART 312 DO CPP: PRISÃO PREVENTIVA X PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA


Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

Temos assistido relativamente abismados um grande número de prisões preventivas nesses últimos anos, quando se iniciaram as investigações da famigerada "operação lava-jato", especialmente porque as pessoas envolvidas de um lado são em sua maioria políticos, que mesmo possuindo duvidoso comportamento moral, devem ter os direitos constitucionais preservados, sob pena de, por conta de um comportamento "justo", da outra parte - a acusadora - estarmos condenando todo o ordenamento jurídico brasileiro. Independentemente de nossas bandeiras políticas ou filosóficas é mister que não deixemos de lado a importância ao respeito a Constituição e seus princípios norteadores, dentre os quais cito o da presunção de inocência, que visa a dar ao acusado todas as oportunidades de se defender até onde lhe é permitido, qual seja a Suprema Corte. A prisão preventiva exige que seja clara a ofensa ao preceituado no art. 312 do CPP, não bastando meras especulações da acusação, pois sendo assim, que oportunidades terá o acusado de provar sua inocência? para que servirá a instrução criminal se apenas o órgão acusador parece ter razão? Não, as coisas não devem ser  assim,  mas assim: Da mihi factum, dabo tibi jus (dê-me os fatos e te darei o direito).
Em quase todos os casos recentes de prisão decretada na operação supra, nunca houve quaisquer comportamentos que se encaixassem minimamente na descrição normativa do art. 312 tais como: Garantia da ordem pública ou ordem econômica ou que impedisse a aplicação da lei penal - mesmo porque ter-se-ia de admitir que o judiciário se deixasse influenciar por outro poder externo ou institucional. Restaria, portanto, a justificativa da conveniência da instrução. Pois bem, se a instrução decorre de informações advindas da polícia judiciária e do órgão acusador, como seria possível tal e qual interferência no regular andamento do feito? nenhuma! de maneira que só se imagina tal justificativa se houver conveniência para alguém, que deseja alcançar a "justiça" ou fazer justiça a todo custo, mesmo que isso represente um desrespeito à Carta Magna e pode vir a ser futuramente uma  faca de dois gumes - Qui gladio ferit, gladio perit - não só para os que se satisfazem com tais ilegalidades como também para quem contra elas não se levanta ou as aplaude! O estado democrático de direito pode não ser bom aos olhos de determinado grupo - geralmente as minorias - contudo é bom para todos, desde que se lhe respeite as regras, todos se beneficiam. No caso da CF/88, há cláusulas imutáveis e princípios aos quais devemos nos submeter, do contrário colocamos em risco a estabilidade institucional do Estado brasileiro, somente então perceberemos que as exceções jamais poderão se tornar regra, e a liberdade é regra, a limitação ao direito de ir e vir somente deverá ser aplicada quando não mais houver outras opções viáveis ao regular andamento do processo criminal. Não concorda? deseje, então, nunca ser julgado ou ter os seus julgados pela exceção, somente assim saberá que o chicote que bate em chico deve também bater em francisco!